Menotti del Picchia

A PAZ
A alva pomba da paz voou aos céus serenos.
Embaixo homens se agitavamentre gritos e tiros.
Paquidermes mecânicossulcavam fossosrasgando trincheiras.
Cansada de librar-se nas alturasa pomba da pazbuscou na terra um pousoe flechounum vôo retorumo a uma coisa imóvelhirta e muda no raso campo verde.
E pousoucalma e tristesobre as mãos cruzadas de um cadáver.

POEMAS DO VENTO
Gastar-se no tempodiluir-se no ventoevolar-se no sonhodeixando- haverá quem o colha? -um resíduo...
Memória.
Levarei por onde andeuma inquietação mais nadaimpulso vital que extingodentro de um pouco de lama.
Tal que o vento que bailafazendo seu corpo efêmerocom a poeira das estradas...

VELHA CANÇÃO
Não penses que não te espero na aparente indiferença.Esta fingida descrençasó disfarça desespero.
Se a falsa máscara friapudesse quebrar esta ânsiasaberias que a constânciaé meu pão de cada dia.
Um pudor duro e severoesperar desesperadoé o que nutre este pecadode querer como te quero.
Destarte - tímido louco -não ouso sondar tua almae nesta insofrida calmadia a dia morro um pouco.